quarta-feira, outubro 28, 2009
Aceitação e mudança
quarta-feira, outubro 21, 2009
Sobre Propósito III
terça-feira, outubro 20, 2009
Redescobrindo o sentido da vida - Olavo de Carvalho
Freud assegurava que, reduzido à privação extrema, o ser humano perderia sua casca de espiritualidade e poria à mostra sua verdadeira natureza, comportando-se como um bicho. Victor Emil Frankl, psiquiatra, judeu e austríaco como Freud, não acreditava nisso, mas não teve de inventar uma resposta ao colega: encontrou-a pronta no campo de concentração de Theresienstadt durante a II Guerra Mundial. Ali, reduzidos a condições de miséria e pavor que no conforto do seu gabinete vienense o pai da psicanálise nem teria podido imaginar, homens e mulheres habitualmente medíocres elevavam-se à dimensão de santos e heróis, mostrando-se capazes de extremos de generosidade e auto-sacrifício sem a esperança de outra recompensa senão a convicção de fazer o que era certo. A privação despia-os da máscara de egoísmo biológico de que os revestira uma moda cultural leviana, e trazia à tona a verdadeira natureza do ser humano: a capacidade de autotranscendência, o poder inesgotável de ir além do círculo de seus interesses vitais em busca de um sentido, de uma justificação moral da existência.
(...)
O que Frankl descobriu em Thesienstadt foi que além do desejo de prazer e da vontade de poder existe no homem uma força motivadora ainda mais intensa, a "vontade de sentido": a alma humana pode suportar tudo, exceto a falta de um significado para a vida. Ao contrário, dizia Frankl, "se você tem um porquê, então pode suportar todos os comos". A privação de sentido origina um tipo de neurose que Freud e Adler não haviam identificado, e que é a forma de sofrimento psíquico mais disseminada no mundo de hoje: a neurose noogênica, isto é, de causa espiritual, marcada pelo sentimento de absurdo e vacuidade.
quarta-feira, outubro 07, 2009
Sobre Propósito II
Li o seu texto sobre "Propósito" e não foi para mim nenhuma surpresa em regozijar-me com sua resposta.
Gostaria de lê-lo mais um pouco a cerca do assunto, então gostaria de comentar e perguntar:
É normal as pessoas entrarem em parafuso sobre o tal propósito, sinonimizando-o como direito obtido, uma vez que passamos a ser herdeiros em Cristo.
Então se começa a investigação frenética: “Preciso descobrir qual o propósito de Deus na minha vida”; “Se isso isto aconteceu, aconteceu porque Deus tem um plano nisso”; “Devemos buscar os melhores sonhos de Deus”; “Tal coisa não pode acontecer, porque Deus não permite que isso aconteça nos filhos Dele”; etecéteras.
A busca ao propósito ou sonhos de Deus é tão grande que automaticamente a fé deixa de ser o elo entre o Homem e Deus, pois uma vez que se tem um perímetro a galgar, um grau a alcançar ou algo a se obter através de técnicas, mentiras, propaganda enganosa e interesse individual, creio eu, que a fé é nula.
Deus sempre fala de fé, e fé que agrada a ele. Agora, como pode Deus ser o que muitos dizem por aí? Como pode agradar a Deus essa ganância religiosa? Por que muitos procuram encaixar Deus nas diversas manifestações da vida em nós (Deus tem haver como uma intervenção miraculosa na morte, no sofrimento ou na não intervenção)? Por que muitos querem encontrar justificativas para afirmar que Deus tem um plano especial e por isso fez alguém nascer cego e outro morrer tão precocemente? Todos têm como alvo uma miraculosa fatalidade? Por que muitos pensam que Deus tem que fazer o sol parar para todos os filhos dele? Se Deus “nada fizer”, é por que ele não tem plano nenhum?
De fato somos emburrecidos por nossa falta de entendimento.
Abraços e até a próxima!
Resposta:
Meu amado mano Moisés: Graça e Paz!
Sim! Em geral as pessoas procuram “propósitos” como alvos objetivos, os quais supostamente Deus tem que bancar.
Entretanto, quando vejo Jesus e Seus ensinos, em momento algum o vejo falando desse tal “propósito” como sendo qualquer coisa além de se viver o propósito de Deus para o homem, que é fazer do homem um homem.
Vejo as pessoas querendo um propósito-objetivo de Deus em suas vidas sem ao menos desejarem o propósito essencial, que é fazer um homem nascer no indivíduo-homem.
Assim, resumindo, digo:
O propósito de Deus é nos encher de amor e fé, mediante cujas realidades nasce em nós o Homem segundo Deus.
Nunca vi Jesus dizendo qualquer coisa objetiva sobre quem quer que seja. E quando fala a Pedro sobre o futuro, apenas diz que ele deve viver em amor [cuidando das ovelhas de Jesus] e sem se comparar a ninguém, pois, o caminho de cada um é um mistério e ser vivido em fé [João 21].
Desse modo o propósito de Deus é fazer surgir nesses meninos e meninas aquilo que Paulo chama de “o novo homem, que se renova no entendimento segundo Deus”.
O que passar disso é exercício de “cartomancia profética”, a qual os “cristãos” amam tanto quanto a amam os pagãos sem Deus e sem Evangelho como entendimento.
Nunca soube de nenhum propósito de Deus para mim além desse de me fazer um homem em Cristo.
O que vai acontecendo é o modo como Ele, o Tapeceiro do Amor, vai costurando aquilo que acontece a mim, se ando em amor.
Paulo mandou amar a Deus e viver sem medo, pois, é no amor de Deus que todas as coisas se explicam.
“Pois todas as coisas cooperam conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que andam segundo o Seu propósito”.
Desse modo, as coisas não são o propósito. O propósito se utiliza das coisas. As coisas são meios, mídias, instrumentos que Deus usa para forjar em nós o propósito. Este, porém, tanto existe como resposta nossa às coisas, como também se realiza na finalidade da resposta às coisas em amor, visto que o propósito é amar a Deus em tudo, posto que somente assim nasce o novo homem em nós.
Quem ama a Deus vive com propósito mesmo quando está na escuridão total!
O propósito é Cristo em nós a esperança da Glória!
Mais do que isto não se fala nada na Bíblia na qual leio.
Um beijo carinhoso!
Nele, que é o Propósito de nossa existência,
Caio
terça-feira, outubro 06, 2009
Sobre Propósito I
O que me leva nesta manhã escrever-lhe é uma busca de um conselho amigo e pastoral. Consciente de muitas coisas, sinto que estou vivendo um profundo esgotamento e/ou desapontamento emocional e espiritual. Não consigo me abrir com amigos e família. Por ter assumido durante muitos anos uma posição ministerial dentro da Igreja e, entre família, penso que não imaginam o que venho sentindo: uma profunda frustração com Deus. Entende?! Amanhã, vou almoçar com uma prima que está com sérios problemas no casamento. A família me pediu para que aconselhasse. Mas, só eu sei como estou... Hoje, vindo para o trabalho, chorei na condução. Ontem quando me deitava, chorava também. Pastor Caio, por que a gente vive a vida toda desejando coisas boas diante de Deus, coisas que não vão agredir a pessoa de Deus; desejos que vão tornar a vida mais sincronizada com Deus, e elas não acontecem? Por que a gente vive a vida toda atrás de um "Deus tem um propósito", e a vida acaba por ser viver a vida atrás desse "propósito", que nunca chega? Às vezes, tenho a leve impressão de que não adianta muito buscar a Deus na tentativa de ter Dele alguns sonhos para vida, porque a vida vai desenrolando e acontecendo num processo seletivo: com uns acontece, com outros não! Fica difícil Pastor Caio, externar esse sentimento entre amigos e família. Sempre estive pregando nos púlpitos, casas, aconselhando, orando por alguém, liderando igreja e grupos missionários... e hoje, me vejo nessa condição. Sei, e como sei, que Deus me ama ..., sei que na Cruz tudo se completou
Um abraço carinhoso.
Agradeço o espaço disponível.
Resposta:
Minha querida amiga em Cristo: O que detectei pode estar errado, mas é o que senti. Trata-se da famosa frase “Deus tem um propósito para a sua vida”. Sempre detestei essa frase. Prova disso é que você não vai achá-la nos meus escritos. Este site é uma boa demonstração disso. Clique em Pesquisa e busque essa frase. Você não a encontrará aqui. E por quê? Será que não acredito que Deus tenha um propósito para a minha vida? É claro que sei que Ele tem! O problema é que se eu souber qual é o propósito, já não ando
Um beijão, Caio
domingo, outubro 04, 2009
Culpa e Graça - Excertos II
Quando eu julgo alguém... Pelo meu julgamento eu o enredo em suas faltas, em vez de libertá-lo delas.
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Esta é, ao menos, a reação de uma pessoa normal. Quem, sob o choque de uma censura, baixa imediatamente a bandeira e aceita sem discussão o veredito, parece ser doente. É atormentado por uma repressão do seu instinto de defesa. Sua conduta é de mau prenúncio. Um arrependimento muito fácil não é um arrependimento, mas uma capitulação. Seus contínuos pedidos de desculpa não trazem nenhum fruto vivo, porque são comandados por um mecanismo neurótico e não por um autêntico movimento do espírito.
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Assim, a mais trágica conseqüência do julgamento que afloramos em alguém é a de lhe barrar o caminho da humilhação e da graça, pois precisamente o empurramos ao uso dos mecanismos de justificação de si mesmo. Em lugar de livrá-lo das suas faltas, fazemos com que ele as defenda. Para ele, nossa voz abafa a voz de deus. Nós o tornamos impermeável a esta voz divina que não escutamos senão no silêncio.
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Se a verdadeira culpa é o que Deus censura em nós, o que eu posso fazer por um doente é ajudá-lo a se aproximar de Deus, a escutá-lo e não a esperar de minha boca um julgamento divino.
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As censuras têm o efeito contrário em um homem são; desencadeiam um inexorável mecanismo de justificação de si mesmo, mesmo havendo intenções puras e a melhor boa vontade da parte de quem critica. Este mecanismo de defesa tem a precisão e a universalidade de uma lei da natureza. Ele se produz com tanta certeza quanto um cão mostra os dentes quando se sente ameaçado ou tanto quanto uma lebre corre quando mirada por uma espingarda. Agressividade ou fuga são as respostas imediatas e inevitáveis a todo julgamento. Todo julgamento é destruidor.
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Os pais julgam a conduta dos filhos segundo a sua ótica de adulto, com toda a experiência de vida que eles têm e que os filhos não têm. Eles acusam um filho, por exemplo, de mentir, porque ele conta como verdadeiras as histórias que inventa. Eles insistem para que ele reconheça a sua culpa. Ora, esta criança não se sente culpada por isso, porque para ela o mundo do sonho é ainda tão real quanto o da realidade. A suspeita cria aquilo de que desconfia. Esta criança chegará, possivelmente, a ser mentirosa, por ter sido acusada, sem razão, de dizer mentiras.
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O julgamento é sempre destruidor. Minha mulher dizia-me recentemente: "No fundo se trata de nos perguntarmos, não se o que dizemos sobre alguém tem base ou não, mas se é construtivo para ele".
Culpa e Graça - Excertos I
Quando eles julgam a conduta de alguém, todos os fazem com um tom peremptório que significa implicitamente que Deus julgaria exatamente como eles. Estão sempre tão fortemente convencidos de seu parecer sobre o bem e o mal que têm a impressão de que Deus mesmo se trairia se não partilhasse da opinião deles.
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Quando a criança mais tarde começar a exprimir outros gostos, outras opiniões, outros julgamentos morais, eles os combaterão com a mesma energia, como se, opondo-se aos julgamentos dos pais, a criança se opusesse também a Deus.
Com zelo e sinceridade, e com boa fé, eles condenam; procuram convencer a todos que esta condenação se confunde com a de Deus, que o que eles julgam como erro é mal aos olhos de Deus.
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Quanto mais nos importamos com a causa de Deus e do bem, e queremos ajudar os homens a servir-lhe e a ser-lhe submissos, mais somos pressionados a denunciar o mal e louvar o bem, a desmascarar os maus e render homenagens aos justos; em uma palavra, fazemo-nos como árbitros do bem e do mal. A Bíblia nos proíbe fazer isso, por uma estranha inversão de perspectiva.
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A própria consciência destas pessoas, que é prontamente tomada como a voz de Deus, revolta-se contra a nossa reserva e não se pode calar. Não há neutralidade diante do bem e do mal; é preciso julgar, falar, dizer o que é culpável e o que não é, sob pena de renegar a fé, a moral e a humanidade. E preciso denunciar o mal no próprio interesse daquele que o comete, para livrá-lo: "Deixa-me tirar o argueiro do teu olho..." (Mt 7:4).
É o próprio Jesus Cristo que diz estas palavras: "Não julgueis..." (Mt 7:1). Sem nos darmos conta, deformamos mentalmente esta ordem, como se Jesus tivesse dito: "Não julgueis ninguém injustamente". Ele disse: "Não julgueis". Ele não negou que houvesse um argueiro no olho do meu próximo, mas pediu para ocupar-me primeiramente com a trave que está no meu. Esta abdicação de todo espírito de julgamento nos é extremamente difícil, e nos parece uma submissão diante do mal.
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"Em 1880", escreve Jean Guitton,13 "poder-se-ia resumir os resultados da análise moral por esta fórmula: mesmo os culpados são inocentes. Em 1945, seria necessário inverter os termos: mesmo os inocentes são culpados... Nós estamos na época dos juízes."
Paul Tournier
Donne - Uma oração
Continuei a sofrer e isto fez com que eu me prostrasse e evocasse o teu santo nome.
Tu me vestiste com o teu eu ao despir-me do meu ego.
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ó Deus, que apareceste em chama de fogo na sarça ardente, aparece, eu te peço, no meio das sarças e espinhos de minha cruel enfermidade, de maneira que eu possa ver-te e reconhecer-te como o meu Deus, dirigindo-se a mim, mesmo nestes dias lancinantes e espinhosos. Atende-me, ó Senhor, por amor do teu Filho, que não deixou de ser o Rei dos céus pelo fato de tu permitires que ele sofresse ao ser coroado com os espinhos deste mundo.
John Donne