O avanço de um povo pode ser praticamente determinado pelo seu interesse em observar as estrelas. Cada grande civilização do passado - inca, mongol, chinesa, egípcia, grega, renascentista européia - fez importantes descobertas no campo da astronomia. Uma ironia permeia a história da humanidade: cada civilização adquire a capacidade de medir sua própria insignificância; depois, deixa de reconhecer esse fato e desaparece.
E nós, lançadores de naves espaciais Viking e Apollo, fabricantes do observatório espacial Hubble e dos radiotelescópios Very Large Array espalhados ao longo de
Quase na mesma ocasião em que li Chet Raymo, fui assitir a um filme produzido pela tripulação de uma nave espacial com uma câmera Omnimax de formato especial. O que mais me impressionou foram as tempestades de raios. Vistos do espaço, os relâmpagos flamejavam em um padrão aleatório de beleza, iluminando, a cada descarga, o tapete de nuvens que se estendia por várias centenas de quilômetros. O raio chameja, espalha-se por determinada extensão, brilha e depois esmaece. E, o que é mais curioso, sem produzir nenhum som.
Fiquei impressionado com a enorme diferença que a perspectiva faz. Na Terra, famílias se aconchegavam dentro de casa, carros se escondiam sob os viadutos das auto-estradas, animais se abrigavam na floresta, crianças choravam á noite. Transformadores cintilavam, lagos transbordavam, cães ganiam. Mas, do espaço, víamos apenas um suave e agradável brilho, aumentando e diminuindo, uma onda de luz.
Chet Raymo, que dorme de dia e contempla o espaço á noite, vive em constante questionamento em decorrência da sua qualidade de observador do universo. Ele descreve como as galáxias que se afastam indicam um BIG BANG da criação, no qual toda a matéria o universo adquiriu existência a partir de uma gigantesca explosão que durou apenas um segundo. Ele reconhece a inimaginável probabilidade de que qualquer bem possa advir de uma explosão causal desse tipo.
"Se um segundo após o BIG BANG o coeficiente da densidade relativa do universo em relação ao seu coeficiente de dilatação diferisse à razão de uma parte em 10.15 (1 seguido de 15 zeros) de seu valor presumido, o universo desmoronaria rapidamente sobre si mesmo ou se dilataria com tanta rapidez que as estrelas e galáxias não teriam se condensado a partir da matéria original... Se todos os grãos de areia de todas as praias da Terra fossem universos compatíveis com as leias da física como as conhecemos - e somente um desses grãos fosse um universo propício à existência de vida inteligente, esse único grão de areia seria o universo em que habitamos."
Depois de ler Chet Raymo, voltei-me para uma passagem que eu marcara há muito tempo no extraordinário livro Alone (Só), o depoimento do Comandante Richard Byrd sobre uma solitária permanência de 6 meses na Antártida, próximo ao Pólo Sul. Byrd estava quase sempre olhando para cima; o restante da paisagem era completamente branco. Encontrando-se mais ao sul do planeta do que qualquer outro ser humano, ele testemunhou fenômenos ocorridos no céu - como a refração, que lançava faixas de cores que atravessavam o núcleo do Sol - fora do campo de visão de qualquer outra pessoa na Terra.
Após uma caminhada em uma tarde gelada (a temperatura era de
"Eu estava convicto de que o ritmo era demasiadamente cadenciado, harmônico e perfeito para ser produto de mero acaso - e que, portanto, devia haver uma finalidade no todo e que o homem fazia parte desse todo, não de uma ramificação acidental. Era uma sensação que transcendia a razão; que tocava o âmago do desespero humano e não encontrava fundamento. O universo era um cosmo, não um caos; o homem era uma parte tão legítima desse cosmo quanto o dia e a noite."
É necessário um grande esforço, e uma fé considerável, para manter O Grande Quadro