segunda-feira, janeiro 29, 2007

Vidas de formigas? Canções de cigarras? - uma respota


O texto "Vidas de formigas? Canções de cigarras? " se encontra no link abaixo:

http://jackyblessing.blogspot.com/2007/01/as-formigas-encontram-se-em-muitas.html

Não se pode usar como refutação algo que concorde com o que se pretende refutar. – Logo compreendi isso ao ler esta apologia a formiga, ou seria uma defesa pessoal?

Entramos em concórdia já quando visualizamos como inútil a idéia de que ser formiga ou ser cigarra, enquanto seres vivos e reais, é um absurdo. Portanto sem delongas sobre isso. Qualquer formiga acharia um absurdo a idéia de ser uma cigarra, e vice-versa.

Ora, quando encaramos a questão ser formiga e ser cigarra enquadrada nas fábulas – ou seja, valorizada em certos aspectos e desvalorizada em outros, como é típico das metáforas, desnecessário é concluir que o ponto de vista define a maneira como decidiremos o que é melhor, ser cigarra ou ser formiga.

A partir dessa compreensão, e de uma reavaliação dos textos, vi que não havia refutação a minha apologia (Melhor seria chamar minha posição de “sugestão”) às cigarras. Até porque o aspecto, e isso ficou bem claro, da cigarra que foi valorizado foi justamente isso: um aspecto. O mesmo em relação à formiga. Vejamos.

A sutileza me fez usar termos como “lado cigarra”, “Alma de cigarra, ‘arquétipo”, para tornar claro que o que estava sendo tratado era a vida humana. E metaforicamente a “vontade irrefreável de cantarrevestiu-se, não inapropriadamente, de cigarra. Tratada como “uma identidade adormecida” que precisa ser despertada.

Não se pode negar a comparação positiva simplesmente apresentando comparações negativas de outros aspectos.

“Viver de uma ou outra maneira implica em sermos felizes?” Sim. Porém é preciso tratar sobre os mesmos aspectos para que haja possibilidade de análise objetiva. Valorizar outros aspectos, repito, é mudar o foco da análise.

Tente responder a essa pergunta tendo em vista a forma de vida humana, representada metaforicamente pela formiga e pela cigarra.

Bem dissestes sobre os também plausíveis aspectos negativos da cigarra e positivos da formiga. Seria bem aplicáveis a certas características humanas – como é feito na Bíblia, por exemplo. Nisso não há discordância nenhuma e utilizo-me deste outro exemplo para continuar defendendo a idéia de que em momento algum houve uma necessidade de refutação. Para fundamentar o que digo citarei alguns trechos.

Por exemplo, admiti algum “aspecto negativo da cigarra da historinha”. Aliás, bem retratado no seu texto. Juntos concordamos que, nas suas palavras, “Não sobreviveríamos sendo apenas "cigarras"”. Por isso que afirmei que o nosso lado cigarra devia diferir da cigarra da nossa história. Já que esta foge, enquanto a sugestão era algo muito parecido com o que acontece a um religioso: O religioso não foge, ele ouve sons diferentes. E isso ritmifica a vida. Por isso que a lição de moral de Esopo apenas corrobora com essa visão.

E, enquanto ao lado bom da formiga, esse bem mais retratado por você, também não há discordância. Juntos concluímos que, forçosamente mais parecidos com as formigas, devíamos despertar o nosso lado cigarra adormecido. Como afirmei: “Já pensou se desse a louca na formiga e ela resolvesse ouvir músicas?”. No que concordas: Penso que podemos ser "formigas cantoras"...

A cigarra posta sob crítica, bem como a formiga posta sobre os louvores é igualmente encarada.


***

“trabalhar para ter descanso nos "invernos"” – Essa não é a formiga que, em meus textos, critiquei.

“Não sobreviveríamos sendo apenas "cigarras", precisaríamos de um empréstimo do formigueiro para suportarmos os "invernos" da vida...”

E isso, mais abaixo, é admitido recípocro. E toda essa dependência nos leva a encararmos as cigarras e formigas não como naturezas diferentes, mas aspectos diferentes de uma mesma natureza.

“Viver é mais que sobreviver.” Oxalá as formigas que incessantemente trabalham entendessem isso. –Esse é o porquê dos textos “cigarras”. A coisa real que é combatida. E até mesmo a diferença dos pensamentos capitalistas e comunistas sobre o trabalho e a vida.

Tanto na versão boa, quanto na versão má, a cigarra tem as suas virtudes devidamente reconhecidas. Embora pessoalmente acho que na versão má elas ressaltem mais.

“defeito é pequeno em face das virtudes, pois é trabalhadeira, diligente e precavida.”

Engraçado. Não tive essa mesma percepção. Na verdade nem muito se falou sobre suas virtudes. Pode-se concluir isso, é claro, através da experiência. Mas não das fábulas (ou pelo menos não dos trechos apresentados).

Sobre ela, na versão má, o que sobressai é a forma como é vítima de sua honra. É apresentada fria e calculista. A sub-vida a tornou assim. É cheia de justiça vingativa expressada no seu falso sermão moral, na verdade, uma necessidade de reconhecimento. O que ela dizia com: não trabalhou, né? Era: eu trabalhei.

Ela devia ser, em todas as versões – não só na boa, grata:

“- Que fazias no tempo de calor? - perguntou-lhe.

- Eu cantava noite e dia a todos que apareciam. - respondeu a cigarra.”

A cigarra alegrava os seus dias.

Ademais, com um pouco mais de tempo, refutamos a idéia de que tem tantas virtudes assim até mesmo na experiência.

Segundo a Wikipédia elas:

Formam níveis de sociedade “eusocialidade”, que deveria significar Eu-sociedade, a sociedade dos eus, a sociedade dos iguais. Elas são intolerantes (No livro Maravilhosa Graça, Yancey cita um exemplo a esse respeito). Não toleram o diferente.

Além de intolerantes são anti-democráticas, e sua estrutura têm cunho altamente capitalista-desigual.

“As sociedades das formigas são organizadas por divisão de tarefas e a cada tipo de tarefa corresponde um tipo de indivíduos diferente, muitas vezes chamados castas.”

“...depois da fecundação, os machos não são autorizados a entrar no formigueiro e geralmente morrem rapidamente”.

“As restantes funções – procura de alimentos, construção e manutenção do formigueiro e sua defesa – são realizadas por fêmeas estéreis, as obreiras.”

http://pt.wikipedia.org/wiki/Formiga

“Tendo a cigarra cantado todo o estio, achou-se em apuros com a entrada do inverno. Não possuía nem um pedacinho de mosca, nem um vermezinho para se alimentar.”

A idéia da cigarra preguiçosa e sucumbido por não cuidar de suas necessidades primárias é, na sua base, inapropriada.

Nada de moscas e manufaturados: “Possuem um "bico" comprido para se alimentar da seiva de árvores e plantas onde normalmente vivem.”

Elas penas fazem como disse o bom Mestre: observam o modo como o Criador vem, fielmente, sustentando a todos, e confiam.

Têm uma vida até longa (E não é com a ajuda da formiga). Se fossem preguiçosa como isso seria possível? “A maioria das espécies do Brasil tem um desenvolvimento completo ao redor de 17 anos....” (Quanto tempo vive uma formiga?).

Ainda insisto na idéia de que devemos deixar um pouco a foice e a vassoura de lado e rolarmos na grama com os nosso filhos.

Cigarras III


Mentalidade de formiga.

- A formiga e a cigarra como as nossas duas naturezas

A cigarra em nós é aquela voz íntima que diz devemos deixar um pouco a foice e a vassoura de lado e rolarmos na grama com os nosso filhos. - Um tempo que têm sido roubado de nós, e se infiltrado no solo da mente, não como arquivos deletados da nossa lembrança. Mas como uma fênix que restaura suas forças para ressurgir com todo gás. E é assim que o desejo se transforma em neurose, que a vontade de cantar da formiga se transforma num desejo irrefreável de abandonar tudo o que envolva suor, como a cigarra (Cury).

Por isso é que foi dito: “Cantando, enquanto o outro trabalha”. Enquanto o Eu-Sistema diz "não" e, "põe a mão na massa", alguma outra voz sugere que já se trabalhou demais.

Tanto a cigarra como a formiga são partes da nossa natureza. Partes irreconciliáveis. Como na história que a Bíblia nos conta...

Raquel, a mulher de Isaque, filho de Abraão, estava grávida de gêmeos. E desde do ventre já se ouvia falar da disputa que os dois se envolviam. Ao nascer, um vem agarrado no calcanhar do outro.

Assim também é com as formigas e as cigarras.

Cigarra é a nossa vontade de fugir...

Formiga é a lei da consciência que reprime essa vontade.

A cigarra não volta atrás, quer cantar.

A formiga não é tão inflexível assim: no fundo, no fundo, ela já sabe que trabalhou o suficiente.

Formiga, especialmente nessa história, não pode ser definida como o nosso lado responsável: não é ser responsável não cuidar de si. Formiga é o sempre estar se preparando para o inverno, é esquecer o agora em função do futuro.

Não é errado trabalhar. O errado é não ceder às outras exigências da vida.

O que ela precisa fazer é não levar tão a sério economistas que, sendo maldosamente reducionista, diz que a cigarra é uma covarde que foge em vez de encarar à realidade de que

“a comida precisa ser juntada para o inverno”.

A cigarra sabe disso. Mas e então? Ser cigarra é uma maneira de protestar, fazer greve a única forma de ser formiga que conhece. Prefere morrer vivendo o agora, a ter que viver morrendo num futuro que ainda não existe.

Ser cigarra, longe de ser a maneira certa de se levar a vida. É apenas uma rejeição ao ser formiga.

A cigarra não foge. Ela encara, protesta. Ao contrário da formiga que aceita e se resigna.

A obediência é ópio da formiga.