quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Olhando Para Cima - Parte I



(Trecho do livro "Encontrando Deus nos Lugares Mais Inesperados - Philip Yancey)


Tenho pensado no Universo ultimamente. No Universo como um todo. Depois de ler um pouco da elegia em prosa do astrônomo Chet Raymo (Starry Nights, The Soul of the Night [Noites Estreladas, A Alma da Noite]), olho para cima e espicho o pescoço em ângulos esquisitos tentando divisar algo no céu vazio e escuro. Morando em Chicago, no entanto, consegui, no máximo, ver a Lua, Vênus e a trajetória de vôo seguida pelos jatos que pousam em O´Hare Field, e devo acreditar na palavra de Raymo no tocante do que existe além disso.

Os conhecimentos sobre o universo são de pouca valia para a auto-estima terrena. O nosso Sol, suficientemente poderoso para transformar pele branca em bronze e atrair oxigênio de cada planta, ocupa um lugar modesto pelos padrões galácticos. Se a gigantesca estrela Antares fosse posicionada onde nosso Sol se encontra - a 93 milhões de milhas de distância - , a Terra estaria dentro dela! E o nosso Sol e Antares representam apenas dois dos 500 bilhões de astros e estrelas que circulam pelo vasto espaço da Via Láctea. Segurando uma moedinha com o braço esticado, encubriríamos 15 milhões de estrelas, se nossa visão tivesse esse poder de alcance.

Do nosso hemisfério, somente outra galáxia, Andrômeda, tem tamanho e proximidade suficientes (meros dois milhões de anos-luz de distância) para ser vista a olho nu. A estrela apareceu nos gráficos estelares muito antes da invenção do telescópio, e até recentemente ninguém sabia que a pequena mancha de luz marcava a presença de uma galáxia duas vezes maior que a Via Láctea e sede de meio trilhão de estrelas, ou que esses vizinhos mais próximos são apenas duas das 100 bilhões de galáxias igualmente repletas de estrelas que existem.

Uma das razões do céu permanecer escuro á noite, apesar da presença de tantos corpos luminosos, é que todas as galáxias se afastam uma das outras com espantosa velocidade. Amanhã, algumas galáxias estarão cerca de 50 milhões de quilômetros mais distantes de nós. No tempo necessário para digitar essa frase, elas terão se afastado mais 3.100 quilômetros.

Contemplei a Via Láctea em plena glória certa vez, quando visitava um acampamento de refugiados na Somália, logo abaixo do equador. Nossa galáxia estendia-se pela abóboda escura como uma auto-estrada pavimentada de pó de diamante. Desde aquela noite em que me deitei de costas na areia quente longe do poste de luz mais próximo, o céu nunca mais pareceu vazio e a Terra grande demais.

Eu havia passado o dia inteiro entrevistando os que trabalhavam pela rendição questionando sobre a megacatástrofe do momento. Curdistão, Ruanda, Sudão e Etiópia - os nomes dos lugares mudam, mas o espetáculo do sofrimento guarda a mesma tenebrosa semelhança: mães com seios murchos e sem leite, bebês chorando e morrendo, pais á procura de lenha em terrenos sem árvores.

Depois de três dias ouvindo histórias de miséria humana, eu não conseguia erguer os olhos e ver além daquele acampamento em um canto lúgubre de um país obscuro situado no Chifre da África. Até ver a Via Láctea, que, de repente, me fez lembrar de que o momento presente não abrangia a vida inteira. A história continuaria. Tribos, governos e todas as civilizações podem ascender e decair deixando um rastro de catástrofes em seu caminho, mas não ousei limitar meu campo de visão às cenas de sofrimento que se desenrolavam à minha volta. Eu precisava olhar pra cima, para as estrelas.

"Poderás tu atar as cadeias do Sete-estrelo? Poderás tu soltar os laços do Órion? Poderás tu fazer aparecer os signos do Zodíaco ou guiar a Ursa com seus filhos? Sabes tu as ordenanças dos céus? Pode estabelecer a influência de Deus sobre a Terra?" Essas perguntas Deus fez a um homem chamado Jó, que, obcecado por seu grande sofrimento, havia limitado sua visão às fronteiras de sua pele, que coçava. Impressionante é a advertência de Deus que pareceu ajudar Jó. Sua pele ainda coçava, mas Jó passou a ter uma visão de outras questões. Deus precisava cuidar de um Universo formado por 100 bilhões de galáxias.

Na minha opinião, o discurso de Deus no livro de Jó aparenta ter um certo tom de rispidez. Mas talvez essa seja a sua mensagem mais importante: o Senhor do universo tem o direito de ser ríspido quando atacado por um minúsculo ser humano, apesar dos méritos de sua queixa. Nós, descendentes de Jó, não ousemos perder de vista O Grande Quadro, a visão mais clara desfrutada em noites claras sem luar.

2 comentários:

chumly disse...

Hola!

Eric Cunha disse...

Oi, quem és?